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As Fases de Freud


Neurologista, Hipnotizador e Farmacologista Freud inventou a psicanálise com um texto inaugural:“Interpretação dos Sonhos”. No episódio #117 do ESPECast, disponível no You Tube e no Spotify, o professor Daniel Omar Perez vai nos mostrar o que Freud fazia antes de criar o método psicanalítico.

 
O Freud Neurologista

Freud termina sua faculdade de medicina e tem uma grande vocação em ser um pesquisador. Para ser pesquisador, porém, eram necessários recursos próprios, ou alguém que financiasse uma vida de pesquisador. Isso não era o caso de Freud. Ele não tinha nenhuma dessas duas possibilidades.

Um amigo seu, então, o aconselhou que ele se dedicasse a fazer clínica, se ele era médico, portanto precisava fazer clínica. Freud faz então um estágio e se envolve, de algum jeito, no trabalho clínico.

Ele tinha uma vocação para a neurologia. Antes de ser psicanalista, Freud foi um neurologista. O texto de 1895, posteriormente chamado de Projeto de uma Psicologia Científica para Neurologistas tem um trabalho de neurologia. Ele fazia trabalho de neurologia. “Então, tem um Freud neurologista, podemos dizer assim.” – nos aponta Daniel salientando que este é um dos aspectos e uma das formas do trabalho de Freud, ele se encaminha pelo trabalho de neurologia.

Mas há também um Freud hipnotizador.



O Freud Hipnotizador

Freud trabalhava com Charcot. Charcot levava adiante a técnica da hipnose para poder apresentar os casos de histeria. Quando volta a Viena, Freud aplica a hipnose e trabalha com ela na clínica. Ele até escreveu um texto sobre uma cura através da hipnose.

“A história conta que ele não era um bom hipnotizador.” – nos lembra Daniel. - Ele considerava que isso se dava pela resistência dos pacientes em relação à hipnose. Seja como for, sendo ela considerada uma espécie de sugestão, ele finalmente a abandona.

Freud farmacologista

Além do Freud neurologista e do Freud hipnotizador, temos um Freud que avança a partir de um trabalho de farmacologia.

“Ele trabalha com problemas de consumo compulsivo de morfina.” – nos conta Daniel.

Geralmente, os soldados voltavam da batalha, voltavam da guerra, com um consumo compulsivo de morfina, que era administrada aos soldados quando tinham ferimentos muito graves, quando, em geral, uma bomba ou uma bala produziam um rompimento de tecidos, de músculos, de ossos, ou um desprendimento de membros inclusive e a dor era muito intensa. A morfina, por sua vez, era administrada para diminuir, apaziguar um pouco essa dor.

Quando retornavam à cidade, estes soldados continuavam com o uso da morfina.

Experimentando a via da farmacologia, Freud, então, procura um dos quatorze halógenos que podem ser isolados da folha de coca, através de um tipo de cloridrato. Ele começa, então, a experimentar os efeitos deste cloridrato, dissolvido em 7%, no próprio corpo.

Ele escreve um texto chamado “Sobre a Coca”, onde ele fala dos percentuais, os tempos, tudo calculado e tabelado dentro do trabalho que ele fazia.

Ele abandona então o trabalho de farmacologia e vai avançar no método psicanalítico, que terá como única regra a associação livre.

Freud então, antes de estabelecer o método analítico (confira o post aqui no blog sobre o Método Analítico) , antes de se encaminhar pela via da psicanálise (sabemos que a psicanálise vai se desenvolver e tomar diferentes formas, propondo diferentes tipos de clínica e diferentes dispositivos clínicos e conceituais, inclusive na própria obra de Freud) –enquanto médico, experimentou a via da neurologia, a via da hipnose, a via da farmacologia até finalmente optar, e permanecer até o final de sua vida, na via da psicanálise.

“Isso é o que Freud realiza.” - aponta Daniel.



Jacques Lacan

Em Lacan podemos observar um percurso que começa com a medicina. Assim como Freud, o Lacan médico desenvolve um trabalho de residência no que se poderia chamar de início da psiquiatria. Ele desenvolve uma tese de doutorado em psiquiatria e, na década de 1930, depois de ter trabalhado na área, depois de ter publicado artigos decididamente psiquiátricos, ele abandona essa via e se encaminha para a psicanálise nos anos 1930 e 1940.

“Podemos dizer que Lacan começa a deixar a psiquiatria quando termina sua tese de doutorado, em 1932, e desenvolve um trabalho de formação de analista e um trabalho de teoria psicanalítica que, em 1953, começa a chamar de seu ensino.” – diz Daniel salientando esse espaço de 20 anos entre a tese de doutorado de Lacan e o ponto onde se inicia seu ensino em psicanálise. Ensino este que trás um dispositivo diferente, com um modo de ver o inconsciente de maneira diferente, assim como um modo de clinicar distinto também.

Tanto Freud quanto Lacan são médicos, partem da medicina, fazem seu percurso por diferentes vias e, finalmente, optam pela via da psicanálise, algo que vão aprofundar durante suas vidas e abrir o que hoje nos apresenta como o campo de investigação psicanalítica, com suas diferentes clínicas.

 

CONCLUSÃo

“Se você quiser aprofundar nesses temas que eu acabei de mencionar. Se você quiser, também avançar na sua formação, se você quiser estudar alguns elementos da psicanálise, eu sugiro que acesse a plataforma ESPECast veja os diferentes percursos, as diferentes conferências sobre aquilo que se produz no campo de investigação científica da psicanálise hoje, e aquilo que se faz na clínica psicanalítica hoje, em português.” – Daniel Omar Perez.

Gostaria de assistir o episódio completo de nosso podcast sobre o tema? Confira o vídeo abaixo:





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Transcrição e adaptação:

Gustavo Espeschit é psicanalista, professor e escritor. Pós-graduado em Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica pelo Instituto ESPE/UniFil e Pós-graduado em Clínica Psicanalítica Lacaniana pela mesma instituição. Formado em Letras Inglês/Português com pós-graduação em Filosofia e Metodologia do Ensino de Línguas.


Autor do episódio: Daniel é psicanalista, pesquisador e professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor e Mestre em Filosofia pela Unicamp, com pós-doutorado na Michigan State University nos EUA e em Rheinische Friedrich-Wilhelms-Universität Bonn na Alemanha. Autor de diversos livros de Filosofia e Psicanálise. Obteve o título de licenciado em filosofia em 1992 na Universidade Nacional de Rosario (Argentina). Publicou artigos científicos em revistas nacionais e internacionais, livros e capítulos de livros sobre filosofia e psicanálise. [1] Os trechos fragmentos estão aqui transcritos como lidos pelo professor Daniel no episódio. Para referências mais exatas, favor consultar as Obras Completas de sua preferência.


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